sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Bordeaux - O melhor vinho do mundo - Parte IV.



Um pouco mais sobre os châteaux e vinhos do Haut-Médoc

A melhor maneira de conhecer a região de Bordeaux é de carro. Existem vários agentes turísticos locais que fazem excursões diárias para os principais châteaux, saindo da cidade de Bordeaux, mas se você puder faça o passeio por conta própria. É muito mais prazeroso, sem regras e sem limites. Mas tenha muito cuidado e não dirija sob o efeito do álcool – planeje o motorista da rodada!

Já tive a oportunidade de visitar várias regiões vinícolas na Europa, especialmente na França, mas nada se compara a uma visita à margem esquerda do rio Gironde. Para os amantes do vinho a região é incomparável!

Um dia de passeio é bom, mas talvez dois seja o ideal. Há quem fique hospedado num dos châteaux da região que dispõe de quartos e restaurantes privativos, por uma ou duas noites. Ainda não tive a oportunidade de fazer esta opção, mas quem já fez, garante que vale a pena!



Na minha visita optei por ficar hospedado na cidade de Bordeaux, por quatro noites, e alugar um carro para passear pelo Haut-Médoc e pelas demais regiões de Bordeaux. A comuna de Margaux fica a 25 km do centro de Bordeaux. Existe uma estrada principal margeando os vinhedos, mas o ideal é por dentro dos vinhedos, seguindo pelas pequenas vias: sem pressa, parando e admirando a bela paisagem. O terreno é totalmente plano e ao chegar à Margaux você verá castelos e mais castelos. Cada um mais charmoso que o outro. Entre os castelos, vinhedos e mais vinhedos. É impressionante a beleza das propriedades!




Para visitar os châteaux mais prestigiados é preciso reservar com antecedência pela internet ou por telefone. Fiz tudo por email. Quase todos são abertos para visitas. Optei por conhecer o Château Cos d’Estournel, em Saint-Estèphe. A minha escolha foi baseada na imponência do castelo – uma construção atípica para a região. A primeira vez que vi este belo Château foi num DVD produzido pelo jornalista Renato Machado no canal fechado GNT no começo da década passada. Outro motivo foi a qualidade dos vinhos produzidos ali: um dos meus preferidos. A visita foi impecável. Se tiver interesse, leia o post publicado em maio 2015.





Depois da cidade de Margaux (cerca de 15 km ao norte), a próxima comuna importante é Saint-Julien (Saint-Julien / Beychevelle). A importância desta pequena aldeia se dá pelo número expressivo de châteaux classificados em 1855. Logo depois de Saint-Julien (a divisa é praticamente imperceptível) temos a comuna de Pauillac, a mais badalada de todas, em virtude dos grandes châteaux ali situados e da pequena vila às margens do Gironde. Grudado em Pauillac, literalmente, temos a região de Saint-Estèphe, outra comuna importante do Haut-Médoc. Um fato me marcou bastante: os Châteaux Lafite-Rothschild e Cos d’Estournel fazem divisa, um em Pauillac e outro em Saint-Estèphe. Apenas uma estreita faixa de vegetação os separa (veja nesta imagem aérea do Google Earth). E o mais interessante: os vinhos são totalmente distintos!



Entre Margaux e Saint Julien, temos o chamado Médoc Central, uma área menos nobre, mas que produz alguns excelentes vinhos, não classificados em 1855. As duas principais aldeias são Listrac e Moulis. Excelentes vinhos, Cru Bourgeois, são produzidos aqui e com preços bem camaradas. As duas vilas são mais interioranas, longe do rio, o que prejudica a qualidade do solo. Todavia, em anos bons e nas mãos de bons produtores, você poderá encontrar excepcionais vinhos. Procure pelo Château Maucaillou, Château Chasse-Spleen e Château Poujeaux, dentre outros. Recentemente numa degustação às cegas na minha casa, o Chasse-Spleen 2001 bateu vários Grand Cru Classé de 1855 do Haut-Médoc.

As características das sub-regiões do Haut-Médoc e os vinhos de destaque.



Margaux – é a maior comuna do Haut-Médoc e a mais ao sul. O solo é mais leve e pedregoso – muito cascalho – e a drenagem da terra é quase perfeita. Os vinhos são descritos como elegantes, aromáticos e finos. O Châteaux Margaux é o mais importante – o único premier cru da região. Outro expoente é o Château Palmer (troisième cru) – um castelo maravilhoso. Dos 61 vinhos classificados em 1855, 21 estão localizados em Margaux. Destaco os seguintes: o Château Rauzan-Ségla, o Château Lascombes, o Château Cantenac-Brown, o Château Kirwan e o Château D’Issan.




Saint-Julien – é a menor comuna, porém 95% dos châteaux estão listados na classificação de 1855. São 11 no total. Talvez no Médoc, sejam meus vinhos preferidos pelo custo-benefício. Karen MacNeil no seu livro A Bíblia do Vinho escreveu: “se você quiser beber apenas os vinhos dessa comuna pelo resto da vida, com certeza será muito feliz”. Os vinhos são saborosos, refinados e, ao mesmo tempo, potentes. Não sei o motivo, mas sempre tive uma queda pelos vinhos do Château Lagrange. Tive a oportunidade de degustar várias safras, quase todas muito boas, especialmente as mais antigas. Outro vinho marcante da região é o Château Gruaud-Larosse. Destaco ainda os seguintes châteaux: os três Léoville, o Ducru-Beaucaillou, o Branaire-Ducru e o Beychevelle. Não poderia terminar esta comuna sem comentar sobre o Château Gloria. Ele produz um vinho delicioso, complexo e relativamente barato. Recentemente paguei 45 dólares por uma garrafa, safra 2010. Uma pechincha pela qualidade do vinho!





Pauillac – a maior estrela do Haut-Médoc. O requinte do requinte! Três dos cinco premiers crus estão localizados aqui (Château Lafite-Rothschild, Château Mouton-Rothschild e Château Latour).  A comuna em si é menor que Margaux, mas possui 18 vinhos classificados em 1855. Os vinhos de Pauillac são descritos como mais encorpados e complexos, todavia o terroir é muito variado, e por isso as características dos vinhos oscilam muito entre as propriedades. A proporção entre as uvas usadas para a vinificação também é muito variada: alguns utilizam mais cabernet sauvignon (até 70%) e outros nem tanto (45%). Além dos três premiers crus, destaco ainda o Château Lynch-Bages, o Château Longueville Comtesse de Lalande, o Château Haut-Bages-Libéral, o Château Grand-Puy-Lacoste e o Château Grand-Puy-Ducasse.






Saint-Estèphe – pequena comuna ao norte, no extremo do Haut-Médoc. Aqui os vinhos são mais austeros e potentes, em virtude do solo mais pesado, o que dificulta a drenagem do mesmo. Sou literalmente apaixonado pelos vinhos daqui. Além do Cos (como os produtores locais chamam o Château Cos d’Estournel), outro vinho soberbo é o Château Montrose. Em 2014, em visita à França, tive a oportunidade de beber a safra 1996 deste vinho – algo inesquecível. Mais uma vez gostaria de citar que a visita privada ao Château Cos d’Estournel é impecável e que pode ser reservada com antecedência pela web. O custo não é tão alto, haja vista que é uma visita exclusiva para poucas pessoas. Vale a pena. Recentemente a safra 2009 foi excepcional. As duas estrelas da região, o Montrose e o Cos, foram laureadas com a nota máxima, 100, pelo jornalista americano Robert Parker.




MJR

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