segunda-feira, 26 de maio de 2014

Barcelona - Gaudí


Barcelona é a concretização do sonho do gênio arquitetônico de Gaudí, que imprimiu sua identidade à cidade.



Antoni Gaudí é considerado o maior expoente do Modernismo Catalão e um dos principais personagens da Art Noveau na Europa, apesar de seu estilo ser tão próprio que se torna difícil de classificar. Nascido em 1852 e durante  seus 50 anos de carreira, combinou o amor pela Catalunha, sua terra natal, com o apreço pela natureza e uma profunda devoção religiosa. Morreu atropelado por um trem aos 73 anos.
Incontáveis livros ilustram seu espírito genial, de modo a ser impossível resumir sua obra em poucas palavras. Suas construções são tão ricamente decoradas que apenas olhos muito atentos - e bem treinados - são capazes de perceber sua grandiosidade. O arquiteto não desenhava suas obras; construía maquetes onde avaliava sua real possibilidade e estimava a sustentação das estruturas. Desta forma, utilizou amplamente os arcos catenários, um dos seus marcos, assim denominados por simularem a posição de uma corda suspensa pelas duas extremidades. Também popularizou os planos abertos, que conferiam iluminação e ventilação, o trencadís, técnica semelhante a um mosaico, mas que utiliza fragmentos cerâmicos maiores, e o ferro fundido, que adornava invariavelmente suas fachadas, quase sempre com motivos da natureza. Neste rico universo, algumas obras merecem um destaque especial.

O templo da Sagrada Família começou a ser construído em 1914 e a ele se dedicou exclusivamente por 43 obstinados anos. Inicialmente concebido para ser um templo gótico, assumiu o estilo inimitável de Gaudí. A primeira impressão é a fachada da Paixão, onde estátuas cadavéricas que encenam a tortura e morte de Jesus Cristo se entremeiam numa paisagem desértica, ladeada por colunas que lembram ossos humanos, tudo numa tentativa de aquilatar o sofrimento supremo. Ainda inacabada, a outra fachada, desta vez da Natividade, exprime todos os elementos contidos no nascimento de Cristo. As estátuas particularmente esculpidas em poses teatrais parecem dar vida à cena. Partindo em direção ao céu, os pináculos da mais alta igreja foram decorados com mosaico veneziano e alguns são finalizados com frutas ou flores. Adentrar a basílica é uma experiência mágica. A iluminação foi concebida de modo que a luz, ao atravessar os vitrais, cada qual com um predomínio cromático, incide em focos multicoloridos dentro da nave. As altíssimas colunas góticas simulam troncos de árvores, cuja finalização em arcos mimetiza as folhas das copas das árvores. Tudo é luz e cor. Nas palavras de Gaudí: "O templo da Sagrada Família será o templo da luz harmoniosa. Na iluminação das igrejas existe um mal entendido de que a abundância de luz é um elemento positivo. Não é bem assim. A luz deve ser a necessária, nem demasiada, nem pouca, posto que ambas as coisas cegam. E os cegos não vêem."









A Casa Milá ou La Pedrera foi construída já nos anos de maturidade profissional da Gaudí. Idealizada como um edifício de apartamentos, ainda hoje conserva seu mobiliário cuidadosamente desenhado pelo artista. Além da construção de grandes fendas que permitem a entrada de luz e ventilação naturais, é em sua cobertura que o espírito inventivo se manifesta: diante do conceito de telhados com chaminés feias e sujas, simplesmente deu de ombros e provou que até mesmo ali podia externar todo o seu capricho: num cenário quase surreal, formas sinuosas arrematam as saídas das escadas e as chaminés, ricamente revestidas pelo trencadís.



A Casa Calvet foi idealizada como residência e escritório de um comerciante e hoje abriga um excelente restaurante tradicional de serviço cortês e comida bem elaborada. Em sua fachada os terraços são ricamente ornamentados com grades de ferro fundido imitando motivos da natureza. Todo seu interior se mantém primorosamente conservado e exprime com distinção e elegância cada detalhe do estilo Art Deco.


Podemos citar também as obras realizadas sob encomenda de Eusebi Güell, seu patrono e grande amigo, a Finca Güell, o Parque Güell e a Cripta Güell; além destas, o Palácio Episcopal, a Casa Vicens, a Casa Bartlò (fotos abaixo) e um sem número de outras obras.




Poucos gênios serão como Gaudí: em sua introspecção religiosa e silenciosa dedicação revolucionou todo um movimento artístico com as próprias mãos.

Raquel


quarta-feira, 7 de maio de 2014

Roma - Itália



A Cidade Eterna. Fundada em 753 a.C., Roma é um burburinho de pessoas e buzinas. A capital do Catolicismo vê passarem apressados grupos de religiosas, como se a batina escura não as castigasse debaixo do sol inclemente.

Se perder pelas ruas de Roma é encontrar cultura. O Coliseu transpira História. Uma das sete maravilhas do mundo moderno, foi construído de 70 a 90d.C. pelo imperador Vespasiano, que após uma série de desastres em seu reinado, como a erupção do Vesúvio, o incêndio de Roma e a disseminação da "peste", decidiu implementar, pela  primeira vez na história, a "política de pão e circo". Desta forma, construiu um local para acalmar o povo e apaziguar os deuses. Além dos seus 3 andares que abrigavam um público de 50 mil pessoas, o Coliseu contava com mais 2 andares subterrâneos, onde permaneciam os gladiadores, as feras, os condenados às portas da execução e todo o pessoal de apoio aos espetáculos. Contava com um sistema de elevadores através dos quais tais personagens eram conduzidos à arena. Cada pedra parece pulsar ao ritmo do coração dos gladiadores que ali deixaram suas vidas.

Em cada quadra, um novo belo templo. A Basílica de São Pedro é a prova viva da pequenez do homem diante da divindade. Depois da primeira impressão da grandiosidade interna da maior igreja católica, logo nos deparamos com sua obra prima: sobre a Pietá, uma luz quase sobrenatural parece evidenciar ainda mais cada dobra das vestes, cada veia dos braços e cada unha das mãos. Tudo apenas para nos mostrar a inimaginável habilidade de Michelangelo, escultor que deu vida a um bloco de mármore e o poliu como marfim, na mais perfeita expressão da delicadeza. Ao fundo do altar encimado pelo baldaquino de Berrini, um vitral especial representa o Espírito Santo, luminoso e hipnotizante.

É lamentável que os Museus do Vaticano tenham que ser cumpridos de maneira tão impessoal, impelidos pelo excessivo número de visitantes que buscam apenas um objetivo: a Capela Sistina. Do mesmo modo como todas as obras riquíssimas de seus corredores, esta estupenda obra é verdadeiramente negligenciada em sua plenitude. O local deve seu nome ao papa Sisto IV e a última pintura foi finalizada em 1541, não se sabendo ao certo quando foi iniciada. Nas pinceladas magistrais de Michelangelo uma amostra de com o gênio humano pode superar qualquer barreira. Foram cerca de 10 anos pintando um único teto. O pai do barroco dispensou pessoalmente seus assistentes por não julgá-los competentes o suficiente. A perspectiva é tão perfeita que não se pode sequer distinguir colunas verdadeiras daquelas pintadas.

As opções gastronômicas são várias, mas talvez uma das melhores mesas seja a do Gaetano Costa, no nobre bairro da Villa Borghese. Na casa deste Siciliano temos uma comida de sotaque francês no coração da Itália. Começamos com uma sopa de crustáceos com folhado de provolone, seguidos de fundo de alcachofras com muzzarella de búfala. Em meio aos pratos de fina elaboração, o fagotelli rosso trufado. Seu perfume de trufas frescas enche o ambiente... e preenche a alma. Harmonizado com o Brunello de Montalcino Castelgiocondo, 2003. Para finalizar, as sobremesas delicadamente montadas: torta folhada de maçã com gelato de vanilla e torta mousse de ciocollata com gelato de frutas vermelhas silvestres.


Depois de um dia de passeio não há carícia melhor que o finíssimo perlage de uma bela Veuve Clicquot. E nenhum lugar do mundo é mais convidativo que o terraço do Hotel Sofitel. Sentado em boa companhia no sexto andar deste elegante edifício da Villa Borghese, pode-se deleitar da beleza dos telhados sob o sol do entardecer, onde se destaca, única e majestosa, a cúpula  da Basílica de São Pedro. Apenas uma visão pode ser ainda mais encantadora: a mesma cúpula, vista do mesmo lugar, só que desta vez sob o céu da noite, impondo sua soberba iluminação.

Raquel